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quarta-feira, 18 de julho de 2012

EMOÇÕES NEGATIVAS



Como o samsara de manifesta? O que quer que percebamos ao nosso  redor com nossos cinco sentidos, todos os tipos de sentimentos  de relação e repulsão, se formam em nossa mente. Não são as  percepções em si que nos mantém no ciclo de existências, mas sim  o modo pelo qual reagimos a elas e o modo pelo qual as interpretamos.  É nisso que o Vajrayana nos dá meios extraordinários para não  perpetuar o samsara: ele nos mostra como perceber os fenômenos  como sendo a exibição pura da sabedoria. 
O ódio ou a raiva que possamos sentir por alguém não são inerentes  àquela pessoa. Eles existem apenas em nossa mente. Assim que vemos  o nosso inimigo, nossos pensamentos se fixam na memória do mal que  ele fez para nós, em seus ataques presentes e naqueles que poderá  fazer no futuro. Nos tornamos irritados a ponto de não sermos mais  capazes de suportar o som de seu nome. Quanto mais liberdade nós  damos a estes pensamentos, mais a raiva irá nos invadir e, com ela,  a vontade irresistível de pegar uma pedra para lhe jogar, ou de  um bastão para lhe bater. Deste modo, um simples instante de raiva  nos conduz ao paradoxo do ódio. 
O ódio parece muito poderoso para vocês, mas de onde ele tira o  poder de dominá-los a esse ponto? É uma força externa, com braços  e pernas, armas e guerreiros? Ou é uma força interna, que está  dentro de vocês? Se esse for o caso, vocês podem identificá-la em  seu cérebro, em seu coração, ou em alguma parte de vocês? 
Apesar de ser impossível de localizá-lo, o ódio parece ter uma  presença muito concreta que tende a amarrar a mente, a  solidificá-la, e desse modo a desatrelar todo um processo de  sofrimento para vocês e para os outros. Assim como as nuvens que,  apesar de serem insubstanciais para suportar o menor peso, podem  encobrir o céu e o sol, do mesmo modo os pensamentos podem  obscurecer a radiação da consciência iluminada. Reconheçam a  vacuidade da mente, sua transparência, e ela retornará por si mesma  ao seu estado natural de liberdade. Reconheça a vacuidade do ódio e ele perderá seu poder de fazer o mal. Ele se tornará a sabedoria que é como o espelho.
- DILGO KHYENTSE RINPOCHE - (1910 - 1991)