Páginas

terça-feira, 31 de julho de 2012

PRINCÍPIO DA MANDALA


Num contexto mais amplo, a mandala é um paradigma do funcionamento natural dos fenômenos. Enxames de abelhas decidem coletivamente sobre a adequação de novos lugares para colmeias. Famílias têm intrincados padrões de atividade e comunicação, com interconexão dos papéis. A única opção que resta de transformação, de acordo com o Vajrayana, é tomar nosso assento em qualquer lugar do mundo em que nos encontramos e o reconhecermos como uma mandala. Nossa vida só pode ser vista como uma mandala se incluir tudo, todas as qualidades positivas, bem como tudo o que gostaríamos de ignorar, rejeitar ou distanciar-nos. Esta mudança no paradigma de trabalho de como pensamos e de se relacionar é o poder transformador da mandala, e é a base do tantra como um poderoso método de meditação budista. Acentua o nosso comprometimento no contexto da experiência e sela as fronteiras sem nenhuma possibilidade de fuga, de modo que nos relacionamos com tudo plenamente.  
Normalmente somos muito espertos e fazemos todo o possível para escapar da experiência de sofrimento, de que o Buda falou de forma tão eloquente. O poder da prática Vajrayana vem dessa simples tecnologia de claustrofobia, na qual o praticante se compromete com a perspectiva da mandala. Quando experimentamos o nosso sofrimento diretamente, sem a diluição dos padrões habituais de fuga, o insight surge naturalmente. Nós podemos começar a experimentar o coração do nosso sofrimento, que é auto existente de sabedoria. O segredo é desistir de qualquer esperança de escapar do sofrimento e isso realmente abre a porta para a compaixão e ação hábil. Uma vez que a compreensão profunda do espaço, do vazio, da luminosidade é realizada, a mandala passa a ser uma expressão da dinâmica do mundo. Sem um ser supremo ou deus, tudo no mundo é uma emanação transparente, um jogo no espaço vazio.
- JUDITH SIMMER-BROWN -  Extraído de Dakinis Warm Breath: The Feminine Principle in Tibetan Buddhism