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quarta-feira, 27 de junho de 2012

ESSÊNCIA MAIS ÍNTIMA


É fácil teorizar e falar com eloquência a respeito do vazio, mas o meditador pode ainda não ser capaz de lidar com certas situações. Um texto do Maha-Ati diz: “a percepção temporária é como uma névoa que com certeza desaparecerá”. Os meditadores que não estudam esses perigos jamais obtém coisa alguma ao fazer um retiro rigoroso, ou refrear a mente à força, ao fazer visualizações, ao recitar mantras ou praticar hatha ioga. Como está dito no Phagpa Düdpa Sutra: “O bodisatva que não conhece o verdadeiro significado da solidão, mesmo que medite durante muitos anos num vale remoto cheio de cobras venenosas, a mil quilômetros da habitação mais próxima, desenvolverá um orgulho arrogante”.
 Se o meditador é capaz de usar como caminho tudo que lhe acontece na vida, seja o que for, seu corpo passa a ser uma cabana de retiro. Ele não precisa aumentar o número de anos que passou meditando e não entra em pânico quando surgem pensamentos ‘chocantes’.  Sua consciência continua firme como a de um velho observando uma criança brincar. Como diz um texto do Maha-Ati: “a realização absoluta é como o espaço imutável”.
O iogue do Maha-Ati pode parecer uma pessoa comum, mas sempre mantém sua atenção no estado desperto atemporal. Não tem necessidade de livros porque encara os fenômenos aparentes e toda a existência como se fossem a mandala do guru. Para ele não existe especulação em relação aos estágios do caminho.  Seus atos são espontâneos, por isso beneficiam todos os seres sencientes. Quando seu corpo morre, sua consciência se identifica com o dharmakaya do mesmo modo que o ar dentro de um vaso se funde com o ambiente quando o vaso quebra.
- JIGME LINGPA -  (1729 -  1798)