ESSÊNCIA MAIS ÍNTIMA
É fácil teorizar e falar com eloquência a
respeito do vazio, mas o meditador pode ainda não ser capaz de lidar com certas
situações. Um texto do Maha-Ati diz: “a percepção temporária é como uma névoa
que com certeza desaparecerá”. Os meditadores que não estudam esses perigos
jamais obtém coisa alguma ao fazer um retiro rigoroso, ou refrear a mente à
força, ao fazer visualizações, ao recitar mantras ou praticar hatha ioga. Como
está dito no Phagpa Düdpa Sutra: “O bodisatva que não conhece o verdadeiro
significado da solidão, mesmo que medite durante muitos anos num vale remoto
cheio de cobras venenosas, a mil quilômetros da habitação mais próxima,
desenvolverá um orgulho arrogante”.
Se o meditador é capaz de usar como caminho tudo que lhe acontece
na vida, seja o que for, seu corpo passa a ser uma cabana de retiro. Ele não
precisa aumentar o número de anos que passou meditando e não entra em pânico
quando surgem pensamentos ‘chocantes’.
Sua consciência continua firme como a de um velho observando uma criança
brincar. Como diz um texto do Maha-Ati: “a realização absoluta é como o espaço
imutável”.
O iogue do Maha-Ati pode parecer uma pessoa comum, mas sempre
mantém sua atenção no estado desperto atemporal. Não tem necessidade de livros
porque encara os fenômenos aparentes e toda a existência como se fossem a mandala
do guru. Para ele não existe especulação em relação aos estágios do
caminho. Seus atos são espontâneos, por
isso beneficiam todos os seres sencientes. Quando seu corpo morre, sua
consciência se identifica com o dharmakaya do mesmo modo que o ar dentro de um
vaso se funde com o ambiente quando o vaso quebra.
- JIGME LINGPA - (1729 - 1798)